Esta aprazível freguesia do concelho de Boticas ainda mantém bem viva a produção artesanal, em diversos domínios, salientando-se a manufactura de capas e aventais de burel, rendas de nós, croças de junco, colchas e toalhas de linho, assim como de meias de lã.

Os habitantes produzem, para uso próprio, objectos que são utilizados nas mais variadas actividades do dia-a-dia: o jugo, que é feito de madeira e serve para jungir os bois; o carro de bois, elaborado a partir da madeira, serve para carregar produtos agrícolas; o arado, também feito de madeira, serve para lavrar as terras; o engaço é feito de madeira e é utilizado para juntar o feno; os cestos são elaborados a partir de vergas de madeira, vimes ou varas delgadas de salgueiro e servem para transportar erva, milho, uvas e batatas; os socos, feitos de madeira, tachas e cabedal, servem, especialmente, para ir regar os campos; a croça é confeccionada com juncos maçados e secos, tendo sido usada, em tempos idos, pelos pastores, para proteger do frio e da chuva; as escadas são feitas de madeira e são usadas para vindimar e para podar; os bancos, feitos de madeira, servem para os seus donos se sentarem à lareira, sendo os maiores usados na Matança do Porco; a roca e o fuso são elaborados a partir da madeira e servem para fiar a lã.

Linho

O linho, com grande importância para esta freguesia, é semeado, em Abril, numa terra plana, de forma a poder ser bem regado. Depois, nasce uma flor azul e uma semente denominada de “baganha” ou “bagarela”. A semente é, posteriormente, debulhada, obtendo-se a linhaça, que serve para fazer as papas de linhaça ou para semear. Cada pé mede cerca de cinquenta centímetros e fica na terra até ao mês de Julho. Nessa altura, é apanhado, ripado com um ripo de ferro, sendo, depois, colocado na água, durante nove dias. Depois de retirada a ribó (água amarelada que deita o linho), deixa-se secar o linho durante nove noites e nove manhãs. Passado esse tempo, apanha-se com uma foice e, seguidamente, o linho vai para o pisão, em casa do Jaco, para ser moído. Posteriormente, já em casa do seu proprietário, puxa-se por ele para o espadar, saindo os tomentos para teias grossas, das quais se fazem albardas para os animais. O restante é sedado num sedeiro, com a ajuda do dedo indicador, separando-se, então, a estopa do linho. Seguidamente, fia-se o linho na roca e só depois é que vai para o sarilho (dobadoura), para que fique em meada. Quando estiver em meadas, é fervido em cinza e água, sendo, depois, colocado em barrela: lavam-se bem as meadas para fazer sair a cinza. Seguidamente, coloca-se o linho num cortiço, tapa-se com um lençol, colocando-se em cima muita cinza (para branquear o linho), ervas de sabugueiro e mantrastos para lhe dar um odor agradável. Durante três dias, todas as tardes, deve ser colocada água a ferver na barrela. Depois, as meadas são enfiadas em canas e postas à cora. Deve-se ter o cuidado de nunca deixar secar. Assim que estiverem muito brancas, as meadas são dobadas na dobadeira e tecidas num tear.

A relevância do linho no quotidiano de Covas do Barroso está eternizada numa cantiga típica da freguesia:

A vida de espadeira
É vida muito magana
Ainda que queira não pode
Dormir de manhã na cama.

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